quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Lucio Salvatore arte saida literalmente da veia.

LUCIO SALVATORE





Além dos 17 retratos de pessoas que doaram o próprio sangue para seus retratos, a exposição conta com um vídeo e mais 12 retratos de pessoas comoVinicius de MoraesOscar Niemeyer e Marina Abramovic, para quem Lucio Salvatore acredita dever tributos e agradecimentos por inspiração e ensinamento.
A escolha do Rio de Janeiro como local de estréia da exposição se deu por motivos afetivos: a cidade maravilhosa cativou o artista por mais de 10 anos, e os reconhecidos contrastes do Rio geraram no artista a inspiração que o levou a desenvolver esta série exposta de trabalhos que dão visibilidade ao choque/contrante/tensão entre imanência e transcendência.
O uso do sangue como material pictórico nasce de uma urgência própria de ser parte de um processo de retorno às eternas questões ontológicas ou questões do Ser. São discutidas, entre outras, a diferença entre identidade própria e Identidade e entre o ser próprio e o Ser. Salvatore diz:
- O sangue guarda todos os códigos do DNA dos sujeitos retratados e conta sua história milenar de descendências, seleções e coevoluções, a duração da vida e o seu tempo. Mas a essência desta narrativa é ao mesmo tempo o enigma: O sangue é a síntese do infinitamente pessoal e do universal. É o elemento mais íntimo, diferente em cada um e, no final, o mesmo para todos. Somos uma coisa só, embora sejamos todos diferentes.
Realizar obras com o sangue da pessoa retratada é o elemento decisivo do trabalho de Lucio e é uma escolha que não é ligada a nenhuma manifestação da história da arte, técnica ou moda, mas tem a ver com a essência das pessoas. Contrariamente aos seus predecessores, que usaram o corpo e o sangue como fator de espetacularização e símbolo de sofrimento ou até morte, em Salvatore, o corpo e o sangue são símbolos de VIDA. A curadora da exposição, Daniela Palazzoli, que já foi responsável, entre outras coisas, pela importante Trienal de Milão, diz que essa exposição fundou o conceito de artista como antivampiro.
Mesmo que, com esta série, Lucio se coloque na linha histórica de trabalhos de arte com sangue (junto a artistas como Gina Pane, Piero Manzoni, Herman Nitch, Marc Quinn, etc), o artista afirma que duas de suas maiores influências não têm trabalhos sanguíneos, diretamente. Elas são artistas mulheres e altamente ousadas: a sérvia Marina Abramovic (com seu experimentalismo do corpo, do desafio de seus limites e das questões da individualidade) e a brasileira Lygia Clark (com suas pesquisas da aproximação estética fenomenológica pós-metafísica das relações humanas).

Lucio passou o último ano procurando por pessoas de todo o mundo que fossem, ao mesmo tempo, especialmente raras e completamente diferentes entre si. Dessa maneira, entre os doadores retratados por Lucio estão:
Fernanda e Constança Basto: para o artista, são símbolos de elegância, da nova mulher, delicadeza, paixão e estão presentes em retratos individuais e juntas.
Pier Paolo Piccioli: Um dos dois poderosos designers da grife Valentino, encarna a alma do rock, unindo sensibilidade, inspiração e força, pessoal e profissionalmente.
Pietro Vittorelli: um dos homens mais poderosos do Catolicismo, é o mais jovem e ousado abade principal da tradicional Ordem de São Bento, amigo do Papa, freqüentador da cena das festas na Itália e apreciador de música pop mundial.
Antonio Lanni: simboliza, para Lucio a ética popular; é um pobre trabalhador braçal, com jornada diária de 18 horas.
Lucia Mariani: mãe do artista, é retratada com uma mistura do sangue do próprio artista e seu irmão.
Lucio Salvatore: o artista produziu um auto-retrato em que figura o perfil de seu próprio pênis ereto.
A mostra, que fica aberta até o dia 31 de outubro no Centro Cultural dos Correios, é também uma homenagem ou um agradecimento do artista a cidade que o recebeu e o inspirou. Por isso, entre os retratados estão grandes personalidades que para Lucio Salvatore são a cara do Rio:
Vinicius de Moraes: o “poetinha” inspirou a leveza e a flexibilidade para o artista que foi formado nas escolas mais rígidas da filosofia européia.
Oscar Niemeyer: as reconhecidamente inovadoras curvas e traços do grande arquiteto brasileiro foram inspiração de muitas das séries anteriores de Lucio.
-Lise Grendene: A modelo é, para Salvatore, “uma mulher que luta contra os preconceitos a procura dos próprios caminhos”.